quarta-feira, 27 de abril de 2016

Recomeçar

Foto retirada da internet
Depois de muito tempo, me olhei no espelho e não me reconheci. Encarei a imagem refletida e pude ver que as minhas expressões haviam mudado. A testa estava franzida, as olheiras bem marcadas e o olhar vazio... Lavei o meu rosto e, ainda meio atordoada, fui em direção à cozinha. Entre um cômodo e outro, lembrei da mulher que um dia fui. Um gole de café e o olhar vago, como se eu procurasse algo. Mas, onde foi que eu me perdi?

Nas fotos espalhadas pela casa, encontrei um sorriso que, há muito tempo, não era meu. Encontrei amigos que, com o tempo, haviam se afastado. Ou será que fui eu que me afastei? Enquanto tentava me achar em meio aos pensamentos, o celular tocou pela décima vez. Apesar de já ter excluído você da minha vida, o visor indicava o seu número. Recusei a ligação - e as suas desculpas esfarrapadas. Nos últimos anos, acreditei em tudo o que você falava e, tomada pela cegueira, não quis enxergar o mal que me fazia. Por medo de te perder, perdi mais do que eu podia imaginar.

Enquanto olhava os quadros pendurados na parede e espalhados pela estante empoeirada, percebi o sol entrando pela janela e abri a cortina. As cores, lá de fora, contrastavam com o cinza que ficou aqui dentro. Vi os carros, as pessoas, as expressões e o sorriso da criança que, mesmo depois da queda e com os joelhos ralados, insistiu e aprendeu a andar de bicicleta sem as rodinhas. Vi, diante daquela cena, o tempo que estava perdendo. Por medo de outras decepções, tinha me afastado de tudo. Mas a vida me provou, mais uma vez, que ela continua. E assim como aquela criança, espero fazer da queda, uma motivação. Vou com o coração ralado, mas vou. A essa altura, o café já havia esfriado e ficado amargo. Mas isso não importava mais. Era hora de recuperar o abraço caloroso dos amigos e a doçura que tinha sido esquecida, em meio a tantas amarguras. Era hora de olhar no espelho e recomeçar.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Nós tentamos

Foto: retirada da internet
Imaginamos uma história que seria nossa, mas trouxemos para o agora, os nossos medos e as nossas dores do passado. Estávamos lado a lado, mas a sua cabeça estava longe. E eu, que nunca quis metades, tive que aprender a conviver com as partes que lhe faltavam.

Os sorrisos tentavam esconder o que o coração sentia. Era preciso ter paciência, era preciso ter força, era preciso tentar - e nós tentamos. Tentamos nos despir das expectativas e continuamos caminhando na mesma direção. A direção era a mesma, mas a distância que nos separava era cada vez maior.

Faltavam as palavras e o calor dos beijos. Havia frieza nos gestos e economia nas atitudes. A presença já não bastava e o silêncio cortava o peito. Só escutávamos a nossa respiração para ter a certeza de que ainda estávamos vivos, embora já tivéssemos morrido, um para o outro, há muito tempo.