quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Sobre o que ela sente e não diz


     
Foto: retirada da internet.

A confiança era o que a sustentava. Acreditava que o amor bastava e que havia reciprocidade no sentimento e sinceridade em todas as palavras ditas por ele. Sonhava com uma casa cheia de filhos e cachorros, da alegria espalhada por todos os lugares em meio a brinquedos e sorrisos. Nem mesmo a velhice a assustava. Imaginava passar os próximos anos, ou a vida inteira, ao seu lado.
  Passou a achar que nenhum outro homem era interessante. O amor havia a cegado. Como forma de defesa ou por pura ingenuidade, passou a desconsiderar os seus defeitos. Parecia que havia se esquecido de todas as outras desilusões vividas. Ele errou algumas vezes, mas o perdão sempre aparecia depois das lágrimas derramadas e das promessas de que teria sido a única e a última vez.
  Como nas outras vezes, ela prometeu que tudo iria ficar bem. Talvez a sua doçura se ausentasse por alguns dias, talvez choraria em silêncio toda vez que se lembrasse. Mas, por mais uma vez, vestiu o sorriso. Aquele já sem brilho e em tons de amarelo que há tempos não usava, mas que sempre aparece quando ela tenta esconder a dor que sente. 

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Não há saída

Foto: retirada da internet.
       Hoje poderia ser um dia como outro qualquer. Mas, sem querer, me perdi nas lembranças. De uma forma ou de outra, o vento frio que entrou pela janela e a névoa, que insiste em esconder o céu e o brilho da manhã, reabriram uma ferida antiga. Dessas que deixam cicatrizes profundas e eternas. A música no rádio era um sucesso de uns três anos atrás, mesma época em que tudo aconteceu.
   Lembro como se fosse hoje, quando ela era repetida várias vezes no meu mp3. Costumava dizer que escutá-la me trazia energias boas. Mas, agora, só de ouvir os acordes iniciais, sinto calafrios. Não há nada de errado com a letra, ainda me recordo dela. A harmonia também não tem nada demais. O problema está em mim e, principalmente, na minha falta de capacidade de aceitar o que aconteceu.
            Tento pensar em outras coisas, mudo a sintonia do rádio, fecho a persiana, me tranco dentro de mim. Talvez, um café faça com que eu reponha as minhas energias ou me ajude a acordar desse pesadelo. 
  Olho para o relógio, mas a hora não passa. E é estranho. Antes, o tempo parecia voar. Seja no velho balanço do quintal ou nas noites contando estrelas. Momentos simples me mostravam que eu estava viva. Agora, nem sei mais se vale a pena estar.
  O vento tocava os meus cabelos no fim da tarde e o sol me sorria enquanto se escondia por trás das montanhas. Eu acreditava que, em cada despedida, ele pudesse me transmitir coisas boas para o dia que ainda ia nascer.
  Hoje, nem sei mais de qual lado o sol se põe. Muito menos, para onde foi a minha esperança. Talvez tenha se perdido entre uma dose ou outra de bebida e se recusando a me ver mais uma vez de ressaca, foi embora. Assim como tantas outras coisas e pessoas que já passaram por mim.
 Ainda não são nem 10 horas da manhã. Eu tento escrever mais uma matéria para o jornal, mas a página do Word continua em branco e as minhas mãos repousadas sobre o teclado. Eu me perdi em pensamentos, te perdi para sempre e não consigo encontrar palavras.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Mais um café

Foto: retirada da internet.
 Um café, a luz apagada e um pouco de música. O sono não vem, mas os pensamentos sim, trazendo os meus medos e as lembranças do que poderia ter sido e não foi. Com a cabeça longe e os dedos sobre o teclado, começo a esboçar o que pode vir a se tornar um texto. Erro uma palavra, volto atrás, a reescrevo. Se não encontro uma sonoridade agradável, recorro a um sinônimo. 
   Entre uma vírgula e mais um gole, desejo em silêncio,  que a vida tenha a opção "desfazer". Desejo poder voltar atrás e fazer diferente. Mas,  a vontade vai embora diante da impossibilidade. Ainda tenho uma folha em branco na minha frente, meia xícara de café e um mundo de incertezas.
   Volto a escrever sobre o que vejo, volto a sentir o que escrevo. Ou será que escrevo o que sinto? As lembranças corriqueiras do momento em que se espera o ônibus, a exaustão dos gestos repetidos, a inspiração em estado latente.
  Mais um gole. A substância preta que me mantém acesa, já esfriou; assim como a madrugada que me faz companhia.O gosto viciante ficou amargo. Talvez as minhas amarguras tenham passado para aquela tímida xícara, vai saber? Às vezes fui eu que fiquei quente e de mais fácil apreciação para esse mundo que me tira o sono. 

terça-feira, 29 de julho de 2014

Foto: retirada da internet.
“Você me sufoca”, ele esbravejou. Depois disso, saiu por aquela porta. Chorei, como nas outras vezes. E, também, como nas outras vezes, acreditei que ele fosse voltar. Foi a última vez que eu o vi.
Embora eu já estivesse acostumada com as suas pequenas faltas, tive que aprender a lidar com a sua ausência. Aquela que era motivo da chantagem emocional das brigas anteriores, mas que, de um dia para o outro, passou a ser permanente na minha vida.
Antes, eu só conseguia enxergar as suas faltas e, hoje, percebo a falta que ele me faz. A cama que antes era pequena para nós, tornou-se gigantesca e fria. Nem mesmo as minhas frustrações e essa solidão que me abraça, dão conta de preenchê-la.
Continuo com a minha velha mania de falar sozinha. As paredes dessa casa já cansaram de escutar as histórias que eu conto, mesmo sabendo que elas são testemunhas dos risos sem motivos, das noites em claro e das juras que fizemos um para o outro. Essas mesmas paredes viram, também, as inúmeras brigas, as promessas de que tudo iria ser diferente, a certeza de que nada mudou e a sua partida.
       Chorei muito e, para ser sincera, choro até hoje. Mas ele tinha razão. Por medo de perder, quis  prendê-lo em mim. Por medo de afrouxar o nosso laço, apertei o nó. E agora, com um nó na garganta, tenho que admitir: eu o sufoquei e, infelizmente, o nosso amor morreu de asfixia. 

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Um dia vou acordar de verdade

Foto: retirada da internet.
Já são quase três horas da tarde, mas eu acabei de acordar. Olho para o despertador e, por mais uma vez, ativo o modo soneca. A essa altura, já perdi todos os compromissos agendados para hoje. Fecho os olhos, tento voltar a dormir. Quero fugir disso tudo. Respiro fundo e, inevitavelmente, olho para o canto direito da cama. Seu cheiro ainda está lá, mas você não.
Essa cama que esteve tão cheia de nós, agora, só encontra o meu vazio. E eu, te buscando em meio aos lençóis, entendo que te perdi aos poucos, sem nem ao menos perceber. As suas pequenas faltas me levaram à sua completa ausência.
O meu celular toca. Movida pela falsa esperança de ser você, corro para atender. Era mais uma daquelas ligações chatas que oferecem serviços de telefonia. Desligo. Vou para a cozinha.
Enquanto preparo o café, lembro de você. Levo a xícara à boca e sinto o gosto amargo. Errei na medida mais uma vez. Talvez todo o açúcar e todo o afeto que existiam em mim, tenham sido dados a você. E só tenha me sobrado a amargura.
Sento em frente à TV e, mesmo sem prestar atenção em nada, aumento o volume na tentativa de acabar com o silêncio da sua partida. Espero que esse vazio seja passageiro e que ao invés da sua ausência, eu possa encontrar enfim, a minha completude.

Volto para a cama, troco de lado, preencho os espaços com travesseiros, fecho os olhos. Quero voltar a dormir e só acordar, quando tudo estiver em ordem.